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este blog é dedicado aos estudos históricos. Por meio dele, espero contribuir um pouco mais com o conhecimento da História, não apenas para alunos, mas a todos a quem possa interessar!
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Revolução Francesa

Oi pessoal, vamos falar hoje de um acontecimento que embora tenha se desencadeado em fins do século XVIII, ainda hoje a força de suas ideias colorem as ações de alguns movimentos políticos. Como tão bem disse Eric Hobsbawm, no livro A Era das Revoluções, a Revolução Francesa influenciou a política no mundo, fornecendo os temas da política liberal ou radical-democrática e também do nacionalismo. Os Códigos legais criados naquele período serviram de modelo para muitas leis e muitas instituições técnicas e científicas buscaram no modelo francês pós-revolução a sua inspiração.

Ainda segundo Hobsbawm: “A Revolução Francesa é assim a revolução de seu tempo, e não apenas uma, embora a mais preeminente, do seu tipo.” (Hobsbawm, 1977, p. 100). Ou seja, a revolução francesa não foi o único movimento revolucionário de sua época, mas, suas características e especificidades fizeram dela um marco na história ocidental.
Ela representou o rompimento com um modo de vida e uma política que marcavam os países europeus aristocráticos. (Mas, professora, que rompimento foi este?) Foi o rompimento com o Antigo Regime, que era marcado por divisões sociais rígidas baseadas no nascimento da pessoa. No qual o Estado era governado por monarquias absolutistas, que privilegiavam uma pequena parcela da sociedade formada por nobres e clero e deixava excluída das decisões políticas a grande maioria do povo.
Mas, para melhor compreendermos a revolução, devemos primeiro entender o contexto em que ela aconteceu. Ou seja, meus amigos, devemos compreender como era a França pré-revolucionária.
Como eu disse, a França era, assim como outros países europeus, uma monarquia absoluta. O poder concentrava-se nas mãos do rei que se sustentava com o apoio do clero (e portanto, da Igreja) e da nobreza.
Em fins do século XVIII, a nobreza francesa, embora detivesse status social, economicamente estava enfraquecida, pois a má administração de suas posses (grandes propriedades rurais, o direito feudal de cobrar impostos e outros resquícios do feudalismo) não conseguia sustentar o tipo de opulência que deviam exibir socialmente. Uma parte dos nobres viviam às expensas do rei e dependiam de casamentos arranjados e favores reais. Outra parte precisava sobreviver dos rendimentos que suas propriedades lhes garantiam, mas esses rendimentos muitas vezes não eram suficientes para bancar a vida luxuosa a que estavam acostumados. A exploração dos camponeses era muitas vezes a saída para conseguir maiores rendimentos. Mas, outro entrave se mostrava, os burgueses que cresciam e se fortaleciam e muitas vezes compravam títulos da nobreza para alcançar o status social que o dinheiro ainda não lhes garantia. Seja proveniente da nobreza cortesã, que vivia na corte, seja da nobreza provinciana, localizada nas propriedades rurais ou da nobreza de Torga, formada por burgueses que compraram títulos – esta camada social, ou Segundo Estado, não abria mão de seus privilégios e do tradicional direito de explorar camponeses e servos para o seu próprio bem estar.
Mas, devemos também lembrar de outra categoria social que detinha privilégios, o clero, também condicionados pela determinação de seu nascimento. Dentre estes privilégios estava o de explorar e tributar a população para a manutenção da Igreja, rica e muito influente em uma sociedade pautada pelas tradições feudais. Mais organizados que os nobres, mantinham ligação direta com a monarquia, influíam profundamente nas decisões políticas e constituíam o Primeiro Estado.
O que sobrava, ou seja, que não era nem nobre e nem fazia parte do clero, constituía o restante da população, os Comuns, o Terceiro Estado. E estes não eram poucos, na verdade, eles perfaziam o total de 97% da sociedade francesa. Uma maioria que arcava com as despesas dos estamentos privilegiados, que tinham que pagar tributos ao rei, à nobreza feudal e ao clero, seja por meio de dinheiro, por serviços prestados ou pela entrega de parte de sua produção.
No entanto, meus queridos estudantes, não pensem que esse “Terceiro Estado” era uno e coeso. Na verdade, a heterogeneidade desta parcela social acomodava interesses e objetivos bem diferentes.
Primeiramente, lembrem-se que faziam parte do Terceiro Estado todos aqueles que não eram nobre e não pertenciam ao clero, ou seja, podiam ser desde ricos proprietários, banqueiros e comerciantes burgueses até pobres servos ligados aos seus senhores em distantes propriedades rurais. Portanto, entre um extremo e outro, existiam pequenos burgueses, artesãos, trabalhadores livres, autônomos, desempregados, camponeses proprietários de pequenas porções de terras, camponeses sem posse de terra que vendiam seu trabalho, miseráveis e mortos de fome, mas também ricos que somente não detinham status social porque não tinham nascido nobres.
Mas, além da rígida divisão social, a França estava vivendo um momento de forte crise econômica. Altamente endividada, principalmente depois de ter ajudado os EUA na sua guerra de independência, passou por más colheitas em 1788 e 1789. A falta de alimentos ocasionou alta nos preços, que por sua vez diminuiu o poder de compra, afetando diretamente a produção manufatureira, gerando desemprego. O povo, nas cidades e no campo, desempregado e sem dinheiro e somado à escassez de alimentos gerou uma forte crise socioeconômica.
Segundo Hobsbawm, essa crise poderia ter sido somente mais um exemplo de revoltas e levantes sociais – como tantos outros vividos naquela época em toda Europa, se o rei Luís XVI não tivesse optado por convocar a Assembléia dos Estados Gerais, adormecida desde 1614.
A crise socioeconômica francesa, enfrentada pelo rei Luís XVI, seria agravada pelas novas reivindicações dos membros do Terceiro Estado. A primeira reivindicação foi que houvesse mudança na forma da votação da Assembléia.
Tradicionalmente, era contado apenas um voto para cada Estado. Portanto, o Primeiro, o Segundo e o Terceiro estados teriam direito a apenas um voto, independente do número de membros que estivessem na Assembléia. O objetivo do Terceiro Estado, depois de conseguir eleger número suficiente de membros que superasse a soma dos membros do Primeiro e Segundo estados, era que a votação passasse a ser por meio do “voto por cabeça”. (Opa, professora, o que isso quer dizer? Não estou entendendo nada!).
Calma, não há dificuldade nenhuma nisso. O “voto por cabeça” era simplesmente que cada membro da Assembléia representaria um voto. Assim, por exemplo, se o Primeiro Estado tivesse 100 membros (gente, é só um exemplo. Não estou dizendo aqui que esse era o número REAL de membros do Primeiro Estado!), ele teria direito a 100 votos. Se, por outro lado, o Terceiro Estado tivesse 355 membros (é só um exemplo!), ele teria esse total de votos na Assembléia. E assim, se a soma dos representantes do Primeiro e do Segundo estados fosse inferior ao número de membros do Terceiro Estado, pela primeira vez na História, eles conseguiriam realmente representar seus próprios interesses, não sendo mais voto vencido na Assembléia.
Mas, não era de interesse do rei, nem do clero e da nobreza, ceder aos pedidos do Terceiro Estado. O que antes foi visto como uma saída, uma solução aos problemas franceses, passou ser encarado como mais um problema por Luís XVI, que pretendia então acabar com a Assembléia dos Estados Gerais. Entretanto, a oportunidade vislumbrada pelos membros do Terceiro Estado não poderia ser desperdiçada e eles se declararam em Assembléia Nacional, obtendo o apoio de alguns membros do baixo clero e nobres influenciados pelas ideias iluministas.
Pessoal, gostaria agora de abrir um parêntese para explicar uma questão bastante importante. A maioria dos membros representantes do Terceiro Estado na Assembléia dos Estados Gerais era de categorias sociais mais abastadas. Assim, os representantes da população francesa que compunham o Terceiro Estado era de advogados, alta e média burguesia e alguns poucos pequenos proprietários. Os interesses em jogo não eram, portanto, de “toda” a população francesa, nem os da camada mais pobre, mas daqueles que detendo o dinheiro queriam também influir no poder. Percebam, eu disse influir no poder e não tomar o poder. É importante destacar essa questão para entender, por exemplo, porque inicialmente foi declarada Monarquia Constitucional e não República. Os interesses burgueses não divergiam profundamente dos interesses da nobreza ou mesmo do clero, apenas queriam mais espaço político para suas próprias reivindicações. Nesse sentido, não encontravam nenhum problema em manter a monarquia, desde que essa também governasse segundo os interesses burgueses.
Fechemos os parênteses e voltemos à nossa narrativa. Declarando-se em Assembléia Nacional, o Terceiro Estado desafiava o poder real e ameaçava a manutenção dos privilégios feudais dos outros 2 estamentos sociais.
Ao mesmo tempo, e é importante pensar a História como um conjunto de acontecimentos simultâneos, a população nas cidades e no campo sofriam com a escassez de comida e o alto preço do pão, principal alimento consumido na França daquela época. Os saques a casas de pessoas mais ricas e também aos estabelecimentos comerciais eram constantes. Por outro lado, a ameaça de manutenção dos contornos da política, vislumbrados na tentativa de fechamento da Assembléia dos Estados Gerais, feita por Luís XVI, colocava mais e mais pessoas nas ruas. O ponto culminante dessas “agitações” sociais foi a tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789.
A Bastilha era o grande símbolo do Antigo Regime. Prisão erguida no centro de Paris, guardava os maiores inimigos políticos do rei. Além disso, a população esperava encontrar dentro de seus muros pólvora, tão necessária aos motins que armavam por toda França. A turba tomou a prisão, matou muitos de seus guardas, não poupando nem mesmo a vida de seu governador. O marco inicial da Revolução estava dado. Por trás dos deputados em Assembléia Nacional estava a população enfurecida. Não mais era possível voltar aos limites da monarquia absoluta. O rompimento com o Antigo Regime estava começando e daí em diante se aprofundaria, radicalizando em alguns momentos ou levando para o lado conservador muitos que a princípio defendiam uma Revolução irreversível.
Tranqüilo até aqui? Vamos falar então das, comumente chamadas, fases da Revolução Francesa.
A primeira fase da revolução foi a da Assembléia Nacional. Iniciada em 1789, como já vimos, durou até 1792, sendo permeada por um período de Monarquia Constitucional. E, o que é uma monarquia constitucional? É uma forma de governo na qual o rei detém o poder Executivo, mas tem a expansão de seu poder limitada pelos poderes Legislativo e Judiciário, responsáveis por aprovar as ações que devem ser feitas pelo Executivo, ou melhor, pelo rei.
Nessa primeira fase da Revolução Francesa, a França passou por longos períodos de revoltas sociais, tanto no campo quanto nas cidades. Como já foi dito, por trás dos deputados na Assembléia estavam milhares de franceses que mostravam a força de suas ações, saqueando, aprisionando e causando a fuga de muitos nobres e clérigos espantados com a violência demonstrada nas ruas e áreas rurais. Esses emigrantes buscavam refúgio nos países vizinhos e de lá começavam a organização, com apoio das monarquias absolutas europeias, de forças contrarrevolucionárias.
Vamos fazer uma pausa para reflexão: o que motivava a participação de países monarquistas no movimento de contrarrevolução, programando invadir a França e acabar com as transformações que vinham sendo implantadas desde a declaração de Assembléia Nacional?
Não é difícil deduzir que o maior perigo que a França revolucionária oferecia aos outros países europeus estava no plano das ideias. O que seria da Europa como um todo se aquelas ideias revolucionárias que pregavam a libertação das amarras do Antigo Regime se espalhassem e passassem a ser incentivo para a irrupção de movimentos revolucionários que visassem os mesmo objetivos dos revolucionários franceses? Seria o fim de monarquias absolutas e do poder ilimitado dos reis. Fim dos privilégios feudais detidos pelo clero e pela nobreza. Seria o fim de toda uma antiga estrutura política, econômica e social que prevalecia na Europa Ocidental. E isso não era de interesses dos países que assistiam à revolução desencadeada na França.
Internamente, algumas mudanças começavam a ser implantadas pela Assembléia Nacional. Ainda em 1789 foi promulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que encarnava, principalmente, os interesses da burguesia. Sob o lema de liberdade, igualdade e fraternidade estavam escondidos os objetivos de proteção à propriedade privada, à política e economia liberal e o controle sobre a participação das camadas mais baixas da população nas decisões políticas. O direito à inviolabilidade da propriedade está descrito na Declaração e a liberdade e a igualdade limitavam-se aos interesses públicos. Formavam-se, nesse momento, as bases para um Estado voltado aos interesses burgueses.
Os trabalhos da Assembléia Nacional continuaram até 1791, quando foi promulgada a Constituição Francesa. Seguindo os moldes da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ficavam patentes os interesses da burguesia. Por ela ficava determinado que a França passava a ser uma Monarquia Constitucional. Os poderes reais agora seriam limitados pela lei. Volto aqui ao apontamento que já fiz anteriormente, as divergências entre os interesses da burguesia e da monarquia, nobreza e clero não eram tão profundas, era plenamente possível manter o rei, desde que este tivesse seu poder limitado e direcionado aos interesses daquela burguesia moderada que comandava as transformações neste primeiro momento da Revolução.
A organização estrangeira de uma contrarrevolução incentivou a tentativa de fuga da família real. Luís XVI não aceitaria tão facilmente as mudanças que a Revolução trazia. Esperando obter o apoio da Áustria, tentou fugir da França, mas foi reconhecido, preso e mandado novamente para Paris, onde tornou-se prisioneiro da Revolução. Era o fim da Monarquia e o início da República Francesa.
Início também da segunda fase da revolução. A Convenção Nacional iniciada em 1792 – depois da tentativa de fuga e aprisionamento do rei, fim da Monarquia e proclamação da República – durou até 1795. Foi marcada inicialmente pelo controle do grupo político dos Girondinos, passando depois às mãos dos Jacobinos no período conhecido como a República Jacobina do Ano II (o período do grande Terror).
Mas, vamos com calma! Afinal de contas, era República ou Convenção? Quem ou o quê eram os Girondinos e os Jacobinos? E a contrarrevolução?
Para facilitar, vou responder a cada uma das perguntas separadamente.
Primeiro, a França passou a ser um país republicano, ou seja, abolida a Monarquia, com a prisão do rei Luís XVI e sua posterior condenação à morte pela guilhotina, foi proclamada a República Francesa que seria governada por uma Convenção Nacional. (Ah!, professora, agora entendi. A França era uma República e o governo era feito pela Convenção.) Isso mesmo, no caso do Brasil, que é uma República, o governo é feito pelo presidente, não é isso? No caso da França daquela época, o governo da nova República seria feito pela Convenção Nacional que era a reunião de alguns deputados da Assembléia Nacional, esses deputados eram eleitos pelo voto censitário.
Continuando, Girondinos e Jacobinos eram grupos políticos que se formaram na Assembléia. Os Girondinos representavam os interesses da alta burguesia, defendiam a não radicalização da Revolução e mantinham uma posição sociopolítica de caráter conservador. Nas reuniões da Convenção eles se sentavam à direita do plenário e, por isso, ficaram conhecidos como o grupo de direita.
Por outro lado, os Jacobinos representavam os interesses da média e pequena burguesia, defendiam que a Revolução deveria avançar em direção aos interesses sociais, principalmente, das camadas mais baixas da população. Portanto, defendiam a radicalização da Revolução. Serão eles que irão liderar os sans-culottes e implantar algumas ações mais radicais e violentas entre 1793 e 1794. (ai ai ai, lá vem você com mais um nome esquisito!). Tudo bem, gente, para não confundir as coisas falarei dos sans-culottes daqui a pouco. Mas, voltando aos Jacobinos, no plenário eles se sentavam à esquerda e ficaram conhecidos como o grupo de esquerda. Isso soa familiar? Pois então, as definições de “esquerda” e “direita” que são até hoje usadas para definir o posicionamento de partidos ou grupos políticos vem dessa época, mais uma herança da Revolução Francesa. Como os Jacobinos e Girondinos defendiam interesses diferentes, uns mais radicalizados que os outros, essa definição passou a ser usada para os grupos ou partidos que defendem interesses radicalizados voltados á sociedade, principalmente, as camadas mais baixas como sendo de “esquerda”. Já os que possuem um caráter mais conservador, sem aceitar ou desejar grandes transformações sociais, como de “direita”. Entendido?
Antes de passarmos para a contrarrevolução estrangeira, quero ainda falar do grupo Pântano ou Planície. Eles também eram grupos políticos, receberam estes nomes por estarem no meio do plenário da Convenção e assumiam uma posição, ou, podemos dizer que não se posicionavam, que ora pendia para a direita, ora para a esquerda. Ou seja, eles estavam em cima do muro e bandeavam para o lado que melhor representassem os seus interesses do momento.
Depois dessa “aula” de posicionamento político, vamos falar da contrarrevolução. Antes que houvesse qualquer invasão à França, os próprios revolucionário declararam guerra à Áustria, que aproveitando a prisão de Luís XVI, uniu força com a Prússia e iniciou a guerra contra a França revolucionária.
Como eu já falei, a princípio a direção da Convenção estava sob o comando dos Girondinos. Mas, a pressão externa – da contrarrevolução, e as insatisfações internas – causadas pela persistência das dificuldades sociais e econômicas, levaram à substituição do comando pelos Jacobinos. Estes ao assumirem o poder da Convenção iniciaram um processo de aprofundamento da Revolução.
Conhecido como República Jacobina, o período foi de acirramento das lutas externas e internas. Toda suspeita de contrarrevolução era punida, geralmente, com a morte. O povo foi armado e incitado a lutar em defesa da França revolucionária. Internamente, destacou-se um grupo que comandava as agitações, principalmente nas cidades, eram os sans-culottes. O nome veio do fato de eles usarem calças compridas no lugar dos calções que iam até os joelhos, usados pela nobreza, numa clara tentativa de distinção e reafirmando seu posicionamento social pobre e humilde.
Enquanto eram conseguidas vitórias na guerra contra as invasões das forças externas, internamente, iniciou-se um processo de caça a todas as pessoas contrárias à revolução. As delações eram incentivadas, os suspeitos presos, julgados e muitos condenados à guilhotina. Nesse período, conhecido como período do Terror, o acirramento da violência foi tão grande que foram guilhotinados não apenas Girondinos, nobres e membros do clero, até mesmo Jacobinos que se mostrassem reticentes ao radicalismo violento implantado por Robespierre, que comandava o Comitê de Salvação Pública, eram levados à guilhotina. No entanto, esse período não foi apenas de mortes e sangue. Algumas conquistas foram adquiridas pela população mais pobre: houve universalização do voto, tabelamento dos preços dos alimentos, distribuição dos bens do clero e da nobreza emigrante, criação de escolas públicas, etc.
Mas, pessoal, a violência parecia nunca chegar ao fim. A população, que antes apoiava as mortes, começava a dar sinais de exaustão, principalmente, depois que alguns líderes jacobinos e sans-culottes foram guilhotinados. Por outro lado, os nobres que ainda permaneciam na França e alguns grupos burgueses começaram a colocar o povo contra as arbitrariedades da República Jacobina. Sem o apoio das massas, Robespierre foi perdendo força e os Girondinos aproveitaram a situação para derrubá-lo do poder e dar fim à Convenção. Robespierre e outros líderes Jacobinos foram guilhotinados e a burguesia moderada, sob o comando dos Girondinos, implantaram o Diretório.
Entramos, então, na terceira fase da Revolução Francesa, conhecida como Diretório. (Mas, professora, quer dizer que a França deixou de ser república?) Não, meus amigos, a França continuava sendo uma República com o governo exercido pelo Diretório. Cinco diretores, escolhidos por voto, que voltou a ser censitário. No período do Diretório, os Girondinos estiveram à frente da Nação. Os clubes Jacobinos foram proibidos, algumas medidas adotadas durante a República Jacobina foram abolidas. Uma nova Constituição foi proclamada e o governo passou a sofrer oposição dos Jacobinos que sobraram e também dos realistas. Antes que haja reclamações sobre mais este termo, já vou logo explicando que os realistas eram os grupos que queriam o retorno da monarquia, queriam que o herdeiro dos Bourbon fosse coroado rei e acabasse com as mudanças feitas pela Revolução até aquele momento.
As oposições sofridas, as dificuldades financeiras, a pressão contrarrevolucionária externa e interna levaram alguns membros Girondinos a defender que a França precisava de um grande líder para corrigir os erros e fazer com que o país crescesse. É nesse momento que despontou a figura de Napoleão Bonaparte. General do Exército que carregava várias vitórias nas guerras em defesa da Revolução, Napoleão representava a possibilidade de o período revolucionário chegar ao fim e se fortalecer os princípios burgueses na França. Diante da tentativa dos realistas de restabelecer a monarquia, Napoleão, com apoio militar e dos Girondinos, tomou o poder no conhecido Golpe do 18 Brumário, 9 de novembro de 1799 no calendário ocidental.
É pessoal, vocês estão vendo que a Revolução Francesa não foi um movimento único, coeso em sua ideologia do início ao fim. Ao contrário, são vários interesses, muitos conflitantes, avanços e retrocessos e constantes transformações. Vale lembrar que o desenvolvimento destes acontecimentos não seguiu uma progressão linear, as coisas aconteciam simultaneamente, as ideias fervilhavam e eram discutidas, muitas vezes ao mesmo tempo. Um processo não esperava o outro terminar para começar a desenvolver-se. Se, ao longo de nossos estudos, temos essa impressão, é porque torna-se necessário pensarmos os acontecimentos de uma maneira mais didática, mais compreensível.
Mas então, voltemos a Napoleão. Dissolvido o Diretório foi implantado o Consulado, assim, o governo seria exercido por cônsules. Na verdade, três cônsules, sendo o primeiro-cônsul o que detinha a maior parcela de poder, o próprio Napoleão Bonaparte.
Assumindo o posto de primeiro-cônsul, Bonaparte iniciou algumas mudanças que foram fundamentais para que a sociedade o aprovasse e ele tivesse o apoio necessário para manter-se no poder. A industrialização foi incentivada por meio de financiamentos estatais. Criou-se o Banco da França e a moeda passou a ser o franco, que inclusive é usado até hoje. A educação passou a ser responsabilidade do Estado e a propaganda favorável ao Consulado era matéria presente no ensino e na mídia.
Em 1802 uma nova Constituição foi promulgada. As ideias burguesas se consolidavam na França e se espalhavam pela Europa, principalmente, pelas conquistas que começavam a ser empreendidas. Também Napoleão, pela Constituição, tornava-se cônsul vitalício.
Aproveitando a grande aprovação social que detinha, principalmente, por ter trazido equilíbrio à França, Napoleão promoveu um plebiscito em 1804 e foi então coroado imperador da França. De militar a imperador, o caminho percorrido por Napoleão era admirado por muitos e suas ações serviram para consolidar as ideias burguesas, garantindo muitas das conquistas da Revolução.
A expansão da influência napoleônica dominou primeiramente a Europa Central, avançando depois para outras regiões. A maior resistência e logicamente, o maior inimigo de Napoleão, era a Inglaterra, que resistia bravamente, principalmente pelo mar. Com o objetivo de enfraquecer e depois conquistar a Inglaterra, Napoleão apostou no Bloqueio Continental. Por ele, ficava determinado que os países aliados da França deveriam fechar seus portos aos navios ingleses. Quem desobedecesse às ordens seria invadido pelo Exército francês e enfrentaria sérias consequências.
O primeiro país a descumprir as ordens do Bloqueio foi Portugal, antigo aliado comercial da Inglaterra. Com apoio dos ingleses a corte portuguesa mudou-se para o Brasil, seu território foi invadido pelas forças francesas. Em seguida foi a vez da Rússia, e a partir daí as derrotas começaram a ser sofridas por Napoleão.
Invadindo o território russo, os franceses iam encontrando cidades e mais cidades abandonadas e destruídas. A tática dos russos era a da “terra arrasada”, pela qual pretendiam vencer os franceses deixando-os sem suprimentos e enfrentando um inverno super rigoroso. Depois de muito avançar, chegando até Moscou, com constantes perdas de homens pela fome e pelo frio, Napoleão decidiu retornar, mas era tarde. Enfraquecidos, não conseguiam vencer as investidas do exército russo e retornaram à França com um número reduzido de soldados. Ao mesmo tempo, Napoleão também ia sofrendo derrotas em outras frentes, chegando à ruína na batalha de Leipzig. Foi obrigado a renunciar e deportado para a ilha de Elba em 1814.
Mas, não pensem que ele desistiu aí. Não, ele conseguiu fugir da ilha e com o apoio dos militares tomou o poder. A monarquia tinha sido restabelecida, sendo coroado Luís XVIII rei da França, mas temendo a invasão, este fugiu e Napoleão assumiu o governo por pouco mais que 3 meses, ficando conhecido como o Governo dos Cem Dias.
Algumas monarquias européias se uniram e conseguiram derrotar Napoleão, pela segunda vez, na batalha de Waterloo. O antigo imperador foi novamente deportado, desta vez para a ilha de Santa Helena, na costa africana, onde permaneceu até a morte em 1821.
Estamos chegando ao fim, meus amigos. A dinastia dos Boubon foi restabelecida. Mas, as ideias da Revolução já estavam semeadas e, na França e na Europa, os traços do Antigo Regime iam sendo substituído num processo irreversível em direção à democracia e a política liberal. As enfraquecidas monarquias ainda tentaram restabelecer a antiga ordem, seja pelas determinações do Congresso de Viena, que reuniu-se para decidir sobre o novo mapa europeu depois das derrotas de Napoleão. Seja pela criação da Santa Aliança que se comprometia a sufocar qualquer manifestação em direção à revolução liberal. No entanto, a mentalidade política e social já tinha começado a mudar e como foi dito, o processo era irreversível.
É isso aí pessoal, é isso que eu queria dizer sobre Revolução Francesa. Parece difícil, mas pensando bem, não é tão complicado assim. E, lembrem-se, a Revolução Francesa foi extremamente importante para a definição dos rumos políticos que seriam seguidos, não apenas na Europa, mas no mundo como um todo.

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