Olá pessoal, preparados para mais uma aula? Tenho certeza que sim. Então, vamos lá!
Falaremos hoje de um assunto de extrema importância para compreendermos o sistema de produção capitalista existente atualmente e as relações de trabalho que estão envolvidas neste sistema de produção. Vamos falar sobre a Revolução Industrial.
A Revolução Industrial, assim como outros temas, já trouxe algumas controvérsias para os estudos históricos. Por exemplo, alguns historiadores optam por não usar o termo “revolução”. Outros divergem quanto ao período inicial da Revolução Industrial. Com relação à primeira questão – foi ou não uma revolução – o historiador Eric Hobsbawm disse, uma vez, que se as mudanças surgidas na forma de produção ocorridas no final do século XVIII não podem ser consideradas uma revolução então poucos outros acontecimentos na história mundial podem receber este nome.
Tudo bem, mas por que Hobsbawm usou tal argumentação para defender que a Revolução Industrial foi de fato uma revolução?
Porque, e ele mesmo segue essas argumentações, as modificações que foram introduzidas na forma de produção transformaram irreversivelmente a maneira de produzir e de comercializar. As transformações ocorridas no sistema de produção, através da Revolução Industrial, mudaram as relações de trabalho. Além disso, a partir da Revolução Industrial e a consolidação do sistema capitalista, a produção não estava mais restrita às necessidades do mercado, o consumo passava a ser incentivado de acordo com o que era produzido e pela velocidade que isso acontecia. Pense e tire exemplo de você mesmo, quantas vezes compra algo sem a real necessidade de comprá-lo? Pois então, isso é fruto do mundo capitalista e consumista em que vivemos e este mundo é fruto da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra por volta da década de 1780.
Outra marca deixada pela Revolução Industrial foi a alienação do trabalhador. Se antes o artesão detinha os meios de produção e conhecia todas as etapas da produção até o produto final, com a introdução de máquinas e a necessária divisão do trabalho, que visava aumentar a produção, o trabalhador perdeu a noção do todo. Além de não possuir mais os instrumentos e meios necessários para trabalhar, somente a sua força de trabalho que era vendida por salários irrisórios, ele passou a desconhecer o conjunto do processo até a obtenção do produto final. (Vale a pena dar uma conferida no filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, 1936).
Já sabemos que o início da Revolução Industrial data da década de 1780 e que ela aconteceu primeiro na Inglaterra. Mas, sei que vocês estão se perguntando: E quando terminou? Por que na Inglaterra?
Respondendo à primeira questão: a Revolução Industrial não é um daqueles acontecimentos que pode ter bem delimitado seu início, meio e fim. Na verdade, a marca inicial de fins do século XVIII não é rígida, pois desde décadas anteriores a forma de produção já caminhava para as transformações que sofrerá posteriormente. E, pasmem!, a Revolução Industrial também não pode ser marcada com um fim. Segundo nosso amigo Hobsbawm, “não tem sentido perguntar quando [a Revolução Industrial] se ‘completou’, pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma deste então.” (Hobsbawm, 1977, p. 60). Ou seja, as mudanças e introdução de novas tecnologias no sistema produtivo não parou e não pára, tire base pelas inovações tecnológicas introduzidas na produção de tal ou qual produto que vocês ficam sabendo diariamente pelos meios de comunicação.
Com relação ao fato de ter acontecido inicialmente na Inglaterra, temos de pensar no contexto inglês daquela época, para então entender o porquê de ter começado lá o movimento que transformaria o mundo no que podemos ver hoje.
A Inglaterra do século XVIII era um país um pouco diferente do restante da Europa. A Monarquia, por exemplo, desde a Revolução Gloriosa tinha seu poder limitado pelo Parlamento que, por sua vez, facilitava bastante a vida dos burgueses e de seus interesses econômicos. Desde modo, com a ajuda do Estado, a atividade comercial na Inglaterra era bastante intensificada, com um escoamento de produtos para mercados não apenas europeus, mas, principalmente, coloniais. Lembrando, pessoal, que este mercado colonial explorado pelos comerciantes ingleses não era apenas o de sua própria colônia, mas também as áreas coloniais portuguesas e espanholas, além do mercado africano de escravos. No caso português ainda existia um agravante que beneficiava grandemente os comerciantes ingleses, pelo tratado de Methuen, de 1703, os mercados portugueses e de suas colônias estavam inteiramente abertos aos produtos manufaturados vindos da Inglaterra.
Fatores naturais também facilitavam a vida e a obtenção de lucros com as atividades comerciais da burguesia inglesa. Sendo uma ilha e tendo uma marinha mercante bastante desenvolvida, o escoamento de mercadorias para o mercado externo nunca foi problema, na verdade, era a garantia da supremacia comercial da Inglaterra e, portanto, da entrada de dinheiro e ouro que poderiam ser, e foram, aplicados na mecanização e melhoramento da produção.
Mas, não foi apenas o capital excedente propiciado pelas atividades comerciais que deram à Inglaterra o pioneirismo na Revolução Industrial. As inovações que passariam a ser usadas nas atividades produtivas necessitavam de matéria-prima: carvão, ferro e algodão. O carvão e o ferro eram abundantes na região e no caso do algodão, a facilidade estava na grande produção algodoeira existente nos estados do sul dos EUA e as importações feitas de outras regiões coloniais.
No entanto, todos esses apontamentos não seriam suficientes para desencadear o processo revolucionário se não houvesse mão de obra disponível nas cidades. E isso foi garantido pelo grande número de pessoas que já haviam deixado as regiões agrícolas em direção às áreas urbanas depois dos cercamentos. (Professora, o que é isso? Cercamentos?).
Sabia que essa pergunta viria agora. Então, o movimento dos cercamentos foi um fenômeno que iniciou na Inglaterra ainda no século XVII, avançando pelo século XVIII, em que os grandes senhores feudais, que era uma nobreza rural mais progressista, a gentry, e também alguns pequenos e médios proprietários rurais, os yeomen, começaram a cercar as terras, que antes eram comunais, expulsando o campesinato e arrendando essas áreas para a pastagem de ovelhas, que por sua vez forneceriam lã para as manufaturas têxteis.
Deste modo, os camponeses que não tinham mais como sobreviver no campo, aqueles que não haviam conseguido ser empregados nas atividades agrícolas, só tinham uma saída: ir para as cidades em busca de trabalho. Esse grande número de pessoas que deixava as áreas rurais formava um contingente cada vez maior de trabalhadores que passaram a alimentar as manufaturas, que geravam mais lucros para seus donos, que podiam, então, investir nos avanços tecnológicos que aumentariam sua produção. Que por sua vez, traria mais lucros que seriam empregados no aumento das atividades produtivas e, posteriormente, na construção de ferrovias, que facilitariam ainda mais o escoamento de mercadorias para os mercados externos. Esse, pessoal, é o princípio do fortalecimento do sistema capitalista de produção, que na sua forma avançada, a que vivemos hoje, cria seus próprios mercados através da criação de grandes consumidores ávidos por comprar... comprar... e comprar.
As relações sociais e produtivas nas áreas rurais já estavam bastante capitalizadas. Eram poucos proprietários de grandes extensões que recebiam pelas terras arrendadas. O trabalho empregado na produção agrícola era pago. E, a agricultura, segundo Hobsbawm, estava preparada para “aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não-agrícola em rápido crescimento; fornecer um grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; e fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia.” (Hobsbawm, 1977, p. 63)
Além de todas essas questões também devemos destacar, pessoal, que a organização financeira na Inglaterra era bem forte e estruturada. Existiam vários bancos que possibilitaram vultosos investimentos na marinha, na construção de ferrovias e na própria industrialização e mecanização da produção.
A primeira área que sofreu modificações no sentido de se industrializar para produzir mais foi a têxtil, principalmente, a indústria algodoeira. A venda de produtos têxteis de algodão era liderada pelos ingleses, como eu já disse, tanto no mercado europeu quanto nas áreas coloniais. Além disso, pela primeira vez na História, o mercado oriental passou a comprar mais do Ocidente do que este daquele, isso aconteceu devido a indústria do algodão.
As primeiras máquinas de fiação eram criadas para solucionar problemas que surgiam com a necessidade de atender um mercado cada vez mais crescente. A máquina de fiar, o tear hidráulico, depois o mecânico – surgiam à medida que a produção não era suficiente para atender a demanda. Primeiro precisava-se de mais fios. Depois a quantidade de fios era maior que a capacidade de tecê-los, era necessário, então, mecanismos que tecessem mais, usando mais fios e menos tempo. E assim, de problema em problema, foram surgindo as soluções. A energia passou de manual, para hidráulica, para o vapor e, depois, à eletricidade. Gradativamente, os avanços conseguidos na indústria têxtil, principalmente do algodão, passavam a ser empregados em outras áreas. Isso significava aumento dos lucros e, consequentemente, maiores possibilidades de investimento.
Estão vendo, quando falamos de Revolução Industrial, falamos de um ciclo contínuo de problemas e a busca pela solução deles. E esse processo não parou, ainda em nossos dias passamos por vários momentos de avanços tecnológicos que são empreendidos na produção de um ou vários produtos, visando atender às demandas do mercado ou criar novas demandas e mercados.
Depois da indústria têxtil, foi a vez dos transportes. A malha ferroviária cresceu vertiginosamente, não apenas na Inglaterra, mas em todo mundo, embora a maior parte dos investimentos para esse crescimento fosse inglês. Deslocar tornou-se mais fácil, tanto para o escoamento de mercadorias quanto para o transporte de pessoas. As distâncias, que antes eram enormes, foram ficando cada vez menores, não porque houvesse um encolhimento do mundo, mas porque vencer distâncias estava deixando de ser um problema para virar uma solução. As barreiras do espaço seriam ainda vencidas pelos avanços na comunicação. Da imprensa ao telefone, estava cada vez mais fácil, comunicar.
É isso aí gente, de lá para cá, temos mais e mais avanços no campo da comunicação. Falar com o outro lado do mundo, antes uma tarefa árdua, senão impossível para muitos, hoje é simples e está ao alcance da maioria das pessoas.
No entanto, não pensem que foram apenas maravilhas que foram geradas pela Revolução Industrial. Não, definitivamente não foi, existe um outro lado, a outra face da moeda, de grandes mazelas. Milhares e milhares de trabalhadores viviam em situação de extrema pobreza e condições subumanas de trabalho, tendo que trabalhar diariamente, 15-16 horas. Sem direito a descanso semanal remunerado, nem férias anuais, e recebendo um salário de fome. Eram homens, mulheres e também crianças, que davam suas vidas, já que não lhes restava tempo para mais nada além do trabalho, por pagamentos semanais que mal dava para comprar o pão de cada dia. Acidentes de trabalho eram comuns. Ambientes insalubres e trabalhos extenuantes se encarregavam de tornar a vida dos trabalhadores mais curta. Duas realidades em um mesmo lugar: Inglaterra, terra de homens ricos, de lucros exorbitantes – nunca antes vistos e nem imaginados – mas também, de uma parcela cada vez maior de proletários vivendo, ou melhor, sobrevivendo desumanamente, privados de todos os direitos, aqueles mesmo direitos que eram lema de uma revolução contemporânea em país visinho, a Revolução Francesa.
As relações de trabalho foram sofrendo mudanças ao longo do tempo. Gradativamente, os trabalhadores perceberam que unindo-se podiam conseguir algumas pequenas melhorias nas suas condições de vida, foram surgindo os sindicatos. O conflito de interesses entre proprietários e trabalhadores aumentava; a vontade sempre maior de lucro de um lado, a necessidade de sobreviver de outro. E estas disputas estão aí, pessoal, perceptíveis nas relações de trabalho que ainda perduram até hoje.
Assim, aquele processo que teve início na Inglaterra foi ganhando o mundo. Primeiro no continente europeu, depois no restante do mundo. O pioneirismo inglês facilitou em muito a vida dos empresários em outras partes, só era necessário importar as tecnologias e os avanços que já tinham sido implantados e testados na Inglaterra. A expansão da Revolução Industrial, com o consequente aumento da produção, necessitava de novos mercados. Assim como o mercantilismo dos séculos XVI e XVII havia estimulado a colonização, principalmente da América, também a Revolução Industrial levou a uma nova corrida por colônias, que seriam fornecedoras de matérias-primas, além de serem novos mercados consumidores. O imperialismo do século XIX, então, foi conseqüência direta do nosso objeto de estudo.
Para finalizar, vou fazer um resumo de algumas formas de produção que já foram usadas pela humanidade. Mas, antes, quero lembrá-los que o desenvolvimento dos acontecimentos históricos não se sucede no tempo em linha reta. A simultaneidade dos fatos está em todas as instâncias e em todos os lugares. Assim, os sistemas de produção que veremos a seguir não foram sendo suplantados uns pelos outros. Em determinados momentos eles sobreviviam ao mesmo tempo e na mesma sociedade. E alguns desses sistemas, na verdade, existem até hoje.
O Sistema Familiar, forma primitiva de produção, era aquele em que a família trabalhava unida na produção de artigos que seriam consumidos por eles mesmos. Ou seja, a finalidade da produção não era a venda, mas a subsistência. A família detinha os instrumentos e meios de trabalho, além de cultivar a matéria-prima necessária para a produção, que ia desde a vestimenta, passando pela alimentação, até a criação de outros instrumentos para o trabalho.
O Sistema de Corporações era aquele em que um artesão, com a ajuda de 2 ou 3 empregados, produziam mercadorias para um mercado pequeno e estável. Os artesãos detinham os instrumentos de trabalho, a matéria-prima e o conhecimento necessário para a produção. O que vendiam era o produto final e não sua força de trabalho. Esse foi o sistema que prevaleceu durante toda Idade Média, mas lembrem-se, este sistema não exclui o anterior e nada os impedia de existirem ao mesmo tempo.
Já no Sistema Doméstico, que mesmo tendo algumas semelhanças com o sistema de corporações não era a mesma coisa, os artesãos trabalhavam em suas casas ou oficinas, com a ajuda de empregados e detinham os instrumentos necessários ao trabalho. Mas, ao contrário do sistema anterior, eles passavam a depender de empreendedores e comerciantes que lhes forneciam a matéria-prima, além de determinar o que produziriam. Recebiam pelas tarefas executadas. Este sistema durou do período mercantilista, no século XVI, até meados do século XVIII, ocupando um espaço entre a forma de produção existente nas corporações e o início do sistema fabril. Entretanto, se pararmos para verificar hoje em dia a produção das facções de vestuário, por exemplo, vemos uma forma semelhante de produção: as faccionistas possuem suas próprias máquinas de costura, montam pequenas fábricas em casa, com algumas ajudantes, e produzem o que lhes é solicitado, usando a matéria-prima que o comerciante lhe fornece.
Por fim, chegamos ao Sistema Fabril, no qual a produção é ditada pelas demandas do mercado, cada vez maior e mais oscilante. O trabalhador não fica mais em sua casa, mas nos edifícios do empregador, que também detém os instrumentos e meios de trabalho, além da matéria-prima. Ao trabalhador cabe apenas vender sua força de trabalho, na maioria das vezes por salários irrisórios, e desenvolver atividades cada vez mais especializadas, cumprindo horários pré-determinados. O uso da máquina, substituindo muitos trabalhadores, é comum neste sistema e o produto final é vendido em regiões, muitas vezes, sem conexão alguma com o lugar onde foi feito. Este sistema foi implantado a partir da Revolução Industrial e persiste até nossos dias.
É isso pessoal, a compreensão destes sistemas de produção nos ajudam a entender um pouco mais das transformações que foram implantadas na Revolução Industrial e que modificaram para sempre as relações sociais de trabalho. Entender também que vivemos numa sociedade capitalista marcada por disputas sociais que estão, quase sempre, relacionadas com a posição que o indivíduo ocupa na sociedade, proprietário ou proletário.
Até a próxima aula!
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