Oi pessoal, bom dia!
Me digam uma coisa, alguém já parou para pensar sobre os acontecimentos marcantes do século passado? Já parou para refletir sobre os avanços obtidos em curto período de tempo se comparado com os séculos anteriores? Mas, também analisou a devastação de vidas causadas pelas duas maiores guerras que a humanidade já vivenciou e que aconteceram no limite de 31 anos? Então, começaremos hoje a nos aventurar sobre este momento, sobre, nas palavras do ‘amigo’ Hobsbawm, “o breve século XX”.
O assunto de hoje, para começarmos a empreitada histórica sobre o século XX, é a Primeira Guerra Mundial, também conhecida, principalmente na época em que aconteceu e nos anos imediatamente posteriores, como a Grande Guerra.
Primeiramente, vamos pensar um pouco sobre o nome dado ao conflito: Grande Guerra – Primeira Guerra Mundial. Esta guerra, diferente das que tinham acontecido até então, foi um conflito que envolveu todas as maiores potências do mundo. Ela não se limitou a disputas localizadas, mas avançou sobre questões variadas, disputas de interesses diferentes. Foi realmente uma Grande Guerra, por sua duração, motivos e conseqüências. Além do mais, no cenário da guerra, a Europa, teve poucos países que não participaram ativamente do conflito e das batalhas, embora não se furtassem de fornecer armas e, principalmente, alimentos para as nações envolvidas. Além do mais, contou com a participação de outra potência ultramar, os EUA, que embora tenham se mantido neutros nos anos iniciais, teve participação ativa, e decisiva, na fase final da guerra. O caráter foi inegavelmente mundial.
Em segundo lugar, vamos começar a refletir sobre as motivações da guerra. Citarei um extrato do livro de Hobsbawm, apenas para facilitar nossa compreensão:
“(...) essa guerra, ao contrário das anteriores, tipicamente travadas em torno de objetivos específicos e limitados, travava-se por metas ilimitadas. Na Era dos Impérios a política e a economia se haviam fundido. A rivalidade política internacional se modelava no crescimento e competição econômicos, mas o traço característico disso era precisamente não ter limites.” (Hobsbawm, 1994, p. 37)
Ou seja, a motivação da guerra não foi limitada a apenas uma questão, embora seu estopim esteja localizado em um acontecimento nos Bálcãs (como veremos), a entrada no conflito de várias potências não se justificaria apenas pelo fato ocorrido. De modo geral, os interesses imperialistas de um país chocava-se com os dos outros. O protecionismo econômico gerava a necessidade de expandir as possessões para garantir mais mercado, mas, se o mundo já estava dividido, como continuar com a expansão sem esbarrar nos interesses alheios? Quase impossível, não é mesmo?
Além disso, a Alemanha vinha crescendo vertiginosamente em termos industriais, rivalizando profundamente com os produtos ingleses. Tinha, ainda, seus atritos com a França e a Rússia e uma sede de expansão imperialista que não foi sufocada, levando ao conflito que envolveria direta ou indiretamente as grandes potências mundiais da época.
De um modo geral e resumindo, os pontos de atritos que estiveram por trás dos motivos da Primeira Guerra Mundial eram:
França x Alemanha – os franceses, movidos pelo sentimento revanchista, queriam recuperar a Alsácia-Lorena, perdida em 1870 para os alemães na guerra Franco-Prussiana;
Inglaterra x Alemanha – a concorrência comercial e industrial entre as duas potências se traduzia em intensa rivalidade naval;
Rússia x Alemanha – as rotas comerciais (ferrovias) dos dois países se cruzavam, acirrando o conflito de interesses e dominação das áreas de cruzamento;
Rússia x Áustria-Hungria – os russos, em defesa de seus próprios interesses sobre a região, defendiam os objetivos de independência dos povos eslavos dominados pelo império Austro-Húngaro na península dos Bálcãs.
Os conflitos e divergências acabaram criando blocos de países que se aproximavam, principalmente, com o objetivo de enfraquecer os inimigos comuns. Foi o que aconteceu com Inglaterra e França que, esquecendo as antigas rivalidades, se uniram na Entente Cordiale (do francês, entendimento cordial) para fazer frente à Alemanha, tendo posteriormente a adesão da Rússia, dando origem à Tríplice Entente, que posteriormente, já durante a guerra serão tratados como Países Aliados.
Por outro lado, a Alemanha aproximando da Áustria-Hungria formou uma Aliança que seria acrescida da Itália, passando a ser chamada de Tríplice Aliança, mas com a retirada dos italianos, que posteriormente se juntariam aos países Aliados, a Tríplice Aliança passaria a ser conhecida apenas como países (ou potências) centrais.
Além disso, duas crises internacionais marcaram os anos imediatamente anteriores a 1914: a questão marroquina e a crise dos Bálcãs.
O Marrocos era uma área de disputa de interesses entre França e Alemanha. Para tentar amenizar as divergências foram feitos vários acordos entre os dois países na tentativa de firmar o domínio ora de um ora de outro na região. Tentou-se, por exemplo, implantar a “política de porta aberta”, permitindo a exploração comercial das duas partes; não deu certo. Outras tentativas foram feitas sem êxito. Por fim, firmou-se acordo no qual a França cedia o Congo francês à Alemanha em troca do domínio sobre o Marrocos, o que parecia ser a resolução do problema, foi apenas o represamento de insatisfações que explodiriam na primeira oportunidade; adivinhem? Exato, conflitos entre os dois países na Grande Guerra.
Por outro lado, a crise dos Bálcãs era marcada por um contexto de lutas de independências dos povos da região, antes pertencentes ao império Turco-Otomano. Essas lutas eram apoiadas pela Rússia, sob a justificativa da defesa do pan-eslavismo, mas que, na verdade, tinha o interesse de unificar os povos eslavos para exercer sua própria influência política e econômica. Porém, os russos não eram os únicos interessados na região. Também a Alemanha e o império Austro-Húngaro queriam obter suas próprias vantagens. A Alemanha, por exemplo, pretendia construir a estrada de ferro Berlim-Bagdá, passando por toda região dos Bálcãs e permitindo acesso ás áreas petrolíferas do Golfo Pérsico.
A situação dos Bálcãs no período anterior ao da guerra era marcada por interesses diversos que geravam disputas locais de grupos nacionalistas que lutavam por suas independências, uns inclinados para o lado russo, outros sob influência dos interesses alemães e austríacos. Como tentativa de acabar com as divergências, o herdeiro do império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando, viajou para Sarajevo, capital da Bósnia, anunciando a anexação da Bósnia e Herzegovina ao império austríaco, elevando, assim esses países a mesma condição da Áustria e da Hungria.
No entanto, os sérvios, descontentes com as intenções do império Austro-Húngaro, mataram o arquiduque em um atentado a 28 de junho de 1914. Já no dia 01 de agosto, o império da Áustria-Hungria declarou guerra contra a Sérvia, obtendo apoio dos alemães. A Rússia posicionou-se ao lado dos sérvios e o sistema de alianças foi acionado, dando início à Primeira Guerra Mundial.
O desenvolvimento do conflito aconteceu basicamente de duas formas: guerra de movimento e a guerra de posição ou trincheiras. O primeiro tipo era marcado pela invasão e avanço das tropas no país inimigo. A Alemanha abriu frentes ofensivas no Ocidente, invadindo a França, e na parte oriental, invadindo a Rússia. O ano de 1914 foi marcado pela guerra de movimento, na qual as tropas invasoras tentavam conseguir avançar o máximo possível aproximando-se das áreas de poder. As tropas alemãs que invadiram a França, quebrando a neutralidade da Bélgica, avançaram em direção à Paris sendo barradas antes pelo exército francês que obteve apoio dos ingleses.
Por outro lado, o avanço das tropas alemãs na Rússia conseguia vitórias, principalmente pelo fato dos russos estarem atuando também na região dos Bálcãs, dividindo, assim, suas possibilidades de defesa. As constantes derrotas das tropas russas seriam um dos motivos da queda do Czar e das revoluções de 1917 que forçaram a retirada do país da guerra e posteriormente possibilitaram a implantação do socialismo. Assim, pessoal, a guerra de movimento foi muito mais proveitosa para a Alemanha no lado oriental do que na ofensiva contra a França, que resistia aos avanços das tropas alemãs em seu território.
Não conseguindo avançar mais, a saída era marcar e defender a posição, os territórios já conquistados, dando início à guerra de trincheiras, que foi a maior marca da Primeira Guerra Mundial. Nessa segunda etapa, eram abertas trincheiras e levantadas barricadas que serviam de defesa contra as tropas inimigas. As batalhas se desenvolviam nessas áreas e a perda de homens acontecia não apenas pelos mortos e feridos com armas, mas também os que morriam de fome, frio e doenças contraídas nos buracos infestados de insetos, lamacentos e úmidos.
As trincheiras da frente Ocidental foram responsáveis pelo maior número de mortes nesta guerra, em termos gerais foram mais de 116 mil soldados norte-americanos; 1,6 milhão de francês, mais de 800 mil britânicos e 1,8 milhão de alemães, isso sem contar o números de civis e os soldados dos outros países. A herança do grande número de mortos que a Primeira Guerra Mundial legou às gerações posteriores criaria um modo de pensar que, em nome da conservação da vida dos seus soldados, desprezaria e consideraria descartável a vida dos soldados inimigos – mentalidade essa presente na Segunda Guerra Mundial.
Abrindo parênteses – foi essa mentalidade que levou a utilização da bomba atômica em Hiroxima e Nagasaki, em 1945, mesmo com a vitória certa sobre os japoneses: o importante era salvar a vida dos soldados americanos e trazê-los de volta para casa, não importando as perdas (civis e militares) que seriam causas ao inimigo. Fecha parênteses.
O ano de 1917 foi decisivo para o fim da guerra. Primeiramente, houve a retirada das tropas russas causada pela revolução que o país enfrentava internamente. Em segundo lugar, foi a entrada dos EUA, enviando tropas e armamentos que foram decisivos para derrotar os alemães. Bastante enfraquecida pelas perdas e esforços de guerra a Alemanha enfrentava revoltas internas e sofria grandes derrotas nas frentes de batalha. Vendo a impossibilidade de reverter a situação e sair vitorioso da guerra, o Kaiser Guilherme II abdicou do trono, promovendo o retorno de suas tropas.
Iniciou-se assim a assinatura de vários termos de paz, que visavam reorganizar a Europa arrasa pela guerra e enfraquecer o poderio militar alemão. O principal destes termos foi o tratado de Versalhes, assinado em janeiro de 1919. Declarava a Alemanha culpada pela guerra, reclamando indenização às potências aliadas pelos danos causados. Exigia, ainda, a devolução da Alsácia-Lorena à França, determinando que a Alemanha perdia direito às suas colônias ultramarinas, dividas então entre as potências vencedoras. A Polônia passava a ter acesso direto ao mar através do “corredor polonês” em terras alemãs. E, por fim, a Alemanha ficava restrita a manter limitadas suas forças militares, tanto em termos de números de soldados quanto em relação à produção de armamentos.
Por outro lado, o império Austro-Húngaro foi desmembrado e foram assinados acordos reconhecendo a independência de países nos Bálcãs. As potências vitoriosas incentivavam a independência e criação de Estados-nação, desde que estes fossem antibolcheviques e estivessem abertos à influência capitalista das grandes nações.
Percebemos, assim, pessoal, que ao final da Primeira Guerra Mundial, os países que já ocupavam o lugar de grandes potências fortaleceram seu poderio e influência sobre o restante do mundo. E, a pretensão de enfraquecer a Alemanha, mostrar-se-ia fracassada quando este país reaparecesse forte e preparado para a Segunda Guerra Mundial anos depois.
Grande abraço e até a próxima aula!
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